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Elizabeth II : aquela que reinou sobre o Planeta do tempo da TV preto e branco ao Metaverso

Atualizado: 19 de set. de 2022

“Eu sei, eu tenho um corpo mais fraco, uma mulher fraca; mas eu tenho um coração e um estomago de rei, de um rei inglês também” Rainha Elizabeth I em Julho 1558


Numa tarde de sol, em pleno maio de 2016, Paloma, Catarina e eu chegamos no Palácio de Buckingham para um chá promovido pela rainha - uma das 3 “Summer Garden Parties” que acontecem anualmente. Entramos sem nenhum tipo de revista ou raio X, nenhuma aparente medida de segurança, e passamos por dentro do Palácio para chegarmos no imenso jardim interno, onde havia um número grande de pessoas, num clima de festa como de um casamento. Minha família foi convidada como parte do “welcome package” dos ingleses para investidores que vêm morar no Reino Unido, assim como em reconhecimento a grandes súditos doadores de recursos para causas humanitárias. Às 17h em ponto, ao som de “God Save the Queen”, chegaram a Rainha, o Príncipe Philip, os Duques de Cambridge, William e Catherine, e as 2 filhas do príncipe Andrew. Momento inesquecível em nossas vidas. Apesar da lenda do rei Arthur, a verdade é que os grandes soberanos ingleses foram 3 mulheres: 1- Rainha Elizabeth I, que deu início à dominação dos mares; 2- Rainha Victoria, que reinou sobre um império onde o sol nunca se punha, movido pelos motores industriais; e 3- Rainha Elizabeth II, cujo reinado foi o mais longo de todos. Em pleno seculo XX, Elizabeth II virtualizou o império em desmantelamento, tornando-se a chefe de Estado dos países do Commonwealth. Em seu reinado, o exército britânico, apesar de ter seu contingente reduzido de 900 mil soldados para 150 mil, manteve a conhecida efetividade, demonstrando que a inteligência é melhor arma. Talvez não seja coincidência que foram 3 mulheres as mais expressivas figuras da monarquia inglesa. Digo isso, porque acredito que o maior benefício da realeza é explicitar a todos, mas em especial aos cidadãos comuns, o que significa o ESTADO. No meu ponto de vista, a confusão do conceito de Estado com Governo é a origem de inúmeras distorções e mazelas das Nações: o Estado é perene (feminino) e o governo é efêmero (masculino). No Reino Unido, a força do Estado como instituição é clara, parece que se respira no ar. Por exemplo: o primeiro ato oficial, de todos os poderosos primeiros-ministros que são eleitos, é “beijar a mão” do soberano. O que isso representa? O primeiro-ministro vai ao Palácio de Buckingham para afirmar que é subordinado ao povo, ali representado pelo Rei / Rainha. Elizabeth II, como chefe do Estado, empossou 15 primeiros-ministros e recebeu a visita de 14 presidentes americanos durante o seu reinado. Todos passaram e ela passarinho. No momento que escrevo este texto, Londres está cheia de gente, e a fila para prestar homenagem à Rainha, que faleceu no dia 8 de setembro, atinge 24 horas. Não existe uma loja, um restaurante, um canteiro de obra, etc., que não tenha uma foto da Rainha Elizabeth II exposta. Londres vai parar no dia de seu enterro. Não é algo forçado - o genuíno sentimento de perda está na face de cada pessoa, nesta semana de luto. No tempo deste reinado que agora finda, a Nação viu os Beatles se declararem mais populares que Jesus , Mary Quant chocar o planeta com suas mini-saias, o sexo barato no Soho atrair até os príncipes, os Sex Pistols cuspirem na plateia, Mick Jagger rebolar, David Bowie cair na Terra, Elton John pirar e sarar, Lady Diana abraçar aidéticos quando todos os abandonavam, a ovelha de laboratório Dolly abrir as portas para o impossível, Spicy Girls apimentarem a infância, James Bond passar pelo crepúsculo do macho, Fred Mercury escolher como nome de sua banda nada menos do que “Queen”, entre tantos outros eventos, nos 70 anos mais transformadores da História - afinal, fomos da TV preto e branco para o Metaverso, passando pela Lua. Naquela tarde de maio em 2016, a Rainha e seus familiares se misturaram com os convidados do chá, como anfitriões comuns, e se dispersaram para dar atenção ao máximo de pessoas possíveis, como reza a boa educação. É evidente que se tratava de um evento de trabalho, e não de prazer, para aquela senhora de 90 anos. Daquela tarde sobrou a foto de Catarina próxima da Rainha, publicada, por puro acaso, em um jornal. Para mim, porém, ficou a imagem de uma servidora pública dedicada, cuja carreira começou dirigindo caminhões na Segunda Grande Guerra, quando Londres foi bombardeada. O efeito prático destes inúmeros pequenos atos desta ilha tradicional é que, nessa quase década que moro no Reino Unido, vi russos, chineses, italianos, gregos, poloneses, brasileiros, franceses, … sentirem-se acolhidos e respeitados em um país estranho. Elizabeth II foi a Rainha do Mundo - não por ser a soberana do Reino Unido, mas por ter conseguido dar à Monarquia um sentido maior, ao se tornar um exemplo de responsabilidade com a “coisa pública”, e o respeito à liturgia do cargo. O legado de Elizabeth II é importante para todos países que, mesmo não sendo Monarquias, têm o desafio de cuidar e manter o Estado como um bem de todos.





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