A verdadeira reforma política é a paridade de gênero
- Fersen Lamas Lambranho
- há 1 dia
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Publicado no Poder 360 12/12/2025
O sistema político brasileiro está esgotado. Vivemos numa democracia em que partidos se transformaram em empresas com receita garantida e recorrente, o Executivo não governa plenamente porque não controla o orçamento, o Legislativo carece de projeto de país e o Judiciário sofre com a desconfiança popular. Mas entre os muitos diagnósticos da nossa crise institucional, um costuma ser ignorado: a ausência de mulheres na governança do país.
Se quisermos uma reforma política com impacto real, ela começa com um Congresso Nacional que reflita a sociedade brasileira. E isso significa garantir que 50% das cadeiras da Câmara e do Senado sejam ocupadas por mulheres. Esse não é apenas um argumento moral. É um imperativo prático.
Segundo o Censo de 2022, as mulheres constituem 51,5% da população brasileira. Ou seja, a maioria do nosso povo é do sexo feminino. As mulheres superam os homens em escolaridade e sustentam, sozinhas, metade dos lares do país.
Além disso, pesquisa da Quaest de 2024 aponta que 20% das famílias não têm figura masculina. Em 50% dos lares, a mulher é a principal responsável pelo sustento da família. Diante da dupla jornada, as mulheres estão mais conectadas aos problemas reais da sociedade. São elas que enfrentam a precariedade das escolas, dos postos de saúde e da segurança pública. Por isso, decisões políticas mais equilibradas entre visões masculinas e femininas tendem a ser melhores, independentemente de ideologia.
Essa não é uma proposta inédita. (A participação feminina no Legislativo cresceu 9,2% no mundo entre 2020 e 2024, segundo dados do Women’s Power Index). Mais de 30 países já têm Parlamentos compostos por pelo menos 40% de mulheres. Suécia, com 46%, México com 50%, Costa Rica com 47%, Emirados Árabes Unidos com 50% e Ruanda com 61%.
No Brasil, porém, a realidade é outra. (O Legislativo tem 594 congressistas e apenas 107 vagas são representadas pelo sexo feminino.) Apenas 17,7% (das 513 vagas) para deputados na Câmara Federal e 19,8% (das 81vagas para senadores) são ocupadas por mulheres. Estamos na 133ª posição no ranking global de participação feminina no Parlamento, segundo a União Interparlamentar.
É urgente que 50% das cadeiras legislativas no país sejam destinadas a mulheres. Não se trata de “cota”. Não cabe “cota” para a maioria da população. Votar em listas separadas por gênero garantiria que nosso Parlamento representasse, de fato, a sociedade brasileira.
Essa sub-representação atual tem efeitos concretos. Um deles é a fragilidade das políticas públicas de proteção às mulheres. Em 2024, o Brasil registrou 1.492 feminicídios, ou seja, quatro mulheres são assassinadas por dia, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apenas por serem mulheres. A exclusão política e a violência caminham juntas. Um Parlamento mais paritário não resolverá todos os problemas, mas será um bom começo. Alguns casos recentes ilustram o tamanho do desafio.
Taynara Souza Santos, de 31 anos, foi atropelada e arrastada por mais de 1 km pelo ex-companheiro em São Paulo. Perdeu as pernas. O caso é tratado como tentativa de feminicídio. Evelyn de Souza Saraiva, de 38 anos, foi baleada dentro do trabalho pelo ex-companheiro armado, também em São Paulo. Está em estado grave. Duas funcionárias foram mortas no Cefet, Rio de Janeiro, por um ex-colega armado que não admitia receber ordens de mulheres. Em Recife, uma mãe e quatro filhos morreram num incêndio ainda sob investigação. Ambos os casos reforçam o grau de vulnerabilidade das mulheres no país.
Esses são nomes que se somam aos milhares de nomes de brasileiras mortas, feridas ou silenciadas por serem mulheres. É um sistema que não as vê e nem as ouve. A exclusão política e a violência caminham juntas.
Enquanto o Parlamento operar com uma mulher para cada quatro ou cinco homens, estaremos legislando em desequilíbrio com a realidade. E não se trata apenas de justiça representativa. Estamos desperdiçando a chance de construirmos um Brasil mais justo, resiliente e humano.
Não cabe mais falar em bancada feminina. O que cabe, com urgência, é um Parlamento brasileiro que represente o Brasil como ele é.






Vou me candidatar !