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Foto do escritorFersen Lamas Lambranho

Diz-me quem sou?


Sou da primeira geração que nasceu com a TV - portanto, minha tenra infância tinha dois temas dominantes: westerns e 2a guerra mundial. Ambos eram eventos muito recentes, e ainda muito vivos no imaginário das pessoas.


Lembro que, de uma forma ou de outra, tínhamos o "medo" como parte da equação da vida. Sabíamos que ideias, expressão pública, escrever ou cantar não eram atos sem consequências. Acredito que minha geração conhece o que é ter uma liberdade parcial.


Quanto à 2a guerra mundial, provavelmente nenhuma guerra foi tão exposta em livros, artigos e filmes. Mesmo assim, vale ver, na HBO, uma série espanhola chamada “Diz-me quem sou?”.


A história começa na Espanha de 1934, e acompanha a vida de uma mulher que presenciou os principais eventos na Europa, desde a Guerra Civil Espanhola até o fim da Guerra Fria.


Nestes tempos em que assistimos, no mesmo dia, à um político fazendo vídeo de apologia à violência, carregando 2 armas, e à outro político, ligado ao governo, recebendo representantes do partido alemão neo-nazista, acredito que vale assistir a algo como “Diz-me quem sou?” - não porque a série retrata uma façanha heróica, ou seja maniqueísta, do "bem contra o mal", mas porque é a história de uma pessoa normal, como eu ou você, jogada no turbilhão de uma situação sobre a qual não tem controle. Trata-se de como uma pessoa lida com suas dúvidas existenciais e suas escolhas, no meio de um mundo onde existem limites estabelecidos por agendas dos donos do poder, ideologias, crueldade e fanatismo.


Estamos aprendendo a viver com "limites" de outras formas: uma pandemia, que podou nossa liberdade de ir e vir, e talvez, em breve, uma questão climática, que poderá nos atingir mais duramente.


Nesse exato momento, diversas histórias como essa da série da HBO devem estar acontecendo em todo o mundo, alterando e reduzindo vidas de milhões de pessoas. São tempos que exigem aceitação, humanidade e generosidade - afinal, estamos lidando com uma ameaça à nossa espécie. Os japoneses foram muito felizes na abertura dos Jogos Olímpicos de 2021, ao focarem na solidariedade e na igualdade como temas da cerimônia.


Não precisamos criar problemas adicionais para nós mesmos. Ao assistirmos a séries / filmes europeus sobre a 2a guerra mundial, talvez possamos nos recordar que, independente da ideologia ou do país, somos capazes de crueldade e segregação, que igualmente podem acontecer pelas mãos de comunistas, capitalistas, alemães, húngaros, americanos, italianos, direita, esquerda, ... - ou seja, a humanidade é capaz tanto de criar coisas semi-divinas e curas, como de destruir seu semelhante. Habilidades que são exclusivas dos humanos na face do planeta.


Nestes tempos que correm, cabe a cada um de nós se perguntar: Quem eu sou?


A resposta estará dentro daqueles que nos cercam.



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