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A Playlist da Nossa Vida

Nos anos 70, fui um adolescente que andava todos os dias pelas ruas e pela orla da praia de Copacabana, Ipanema e Leblon, no Rio de Janeiro.


Andar era minha forma de meditação, e meu mantra eram as músicas que cantava para mim mesmo e que, naquele tempo, refletiam meu estado de espírito, minhas ideias, minha utopia, meus amores, … ou seja, refletiam meu mundo próprio e escondido, como um diário da loucura que imaginava ter, ou do romantismo que escondia para mim, ou ainda do idealismo digno da geração pós-68.


Nas minhas caminhadas pela praia de Ipanema, sempre via uma senhora idosa, de cabelos brancos longos bem cortados e meias 3/4, que andava diariamente de bicicleta, cantando a plenos pulmões, sem nenhum constrangimento. Embora as pessoas vissem nela uma provável loucura, eu a olhava com inveja, e a admirava pela coragem. Com o sorriso sempre aberto, a senhora devia saber, pela experiência de vida, que o canto a mantinha forte e viva.


A música estava nos rádios e, nas calçadas, ouvíamos as novas músicas nas caixas de som das lojas de discos. Visitar essas lojas

era fundamental para “folhearmos” as capas dos discos, e ouvirmos partes destes em uma vitrola da loja. Discos eram caros, e geralmente ganhávamos de presente de aniversario ou Natal. A solução “caseira” era gravar, em fitas cassete, os lançamentos que tocavam nas rádios.


Os anos 80 chegaram ao som dos estéreos imensos carregados nos ombros dos pretos americanos, que infernizavam os quarteirões. Na sequência, tivemos o walkman da Sony, que se podia levar na cintura, e que embalou danças de patins e exercícios físicos inspirados no fenômeno criado por Jane Fonda.


Com o shuffle da Apple e o iPod, a música entrou na vida cotidiana das pessoas numa velocidade incrível. Em pouco tempo, o telefone celular, além de fotografar, também passou a tocar música. Atualmente, através de um serviço de streaming, somos capazes de acessar todos os álbuns do passado, do presente e do futuro. Temos música clássica, independente, folk, global, …ao nosso alcance, com apenas um click.


Hoje todos nós somos curadores de nossas listas de músicas, que passaram a ser uma nova forma de impressão digital. Como escova de dente, cada um tem a sua.


Descobri, recentemente, um podcast excepcional chamado “Playlist da Minha Vida”, apresentado por Fernanda Torres na Dreezer. Os convidados falam da sua vida usando, como fio condutor, 12 músicas que os marcaram. Trata-se, claramente, de um exercício de síntese incrível, porque centenas - se não milhares - de músicas compõem a playlist da jornada da nossa existência.


Eu continuo um andarilho onde quer que esteja no planeta. Também continuo ouvindo as músicas que tocam o fundo da minha alma mas já não preciso cantar já que estão em versão original no meu bolso.


Nestes últimos 50 anos cada ser humano, como um personagem de um filme ou de uma novela, passou a ter a sua trilha sonora. Quando o assunto é a playlist da vida, cada um de nós, independente da relevância profissional ou intelectual, seria um entrevistado interessante para o podcast da Fernanda.


A história de cada um dos 8 bilhões de humanos, tendo músicas como fio condutor, vale a pena ser contada. Ou melhor, vale a pena ser ouvida.




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