No dia primeiro de maio de 2010, eu estava em Milão, na frente do Duomo, quando presenciei uma passeata do PCI, partido que administrava a cidade mais capitalista do país (só na Italia...).
"Fugi" para uma exposição sobre "a Águia e o Dragão", na qual o curador buscava analisar os pontos em comum entre os dois grandes impérios da história humana: o romano e o chinês.
As semelhanças são imensas, o que só reforça a importância e dominância do Império fundado por Remo e Romulo no Lazio afinal o Império Chinês é a maior potencia do planeta desde sempre. O império romano absorveu a cultura grega, e moldou o mundo que vivemos de forma profunda. Os 10 séculos de hegemonia no Ocidente estabeleceram códigos e costumes que seguimos até hoje.
Uma das características dos grandes impérios é a capacidade de se moldar às novas demandas. Assim aconteceu quando Constantino, imperador romano, adotou uma religião monoteísta e de origem distante, que tinha surgido entre dominados e escravos. Roma adotou o cristianismo porque atendia a seus objetivos de sobrevivência. Quando os bárbaros invadiram Roma, mesmo tendo agredido, destruído e esfacelado seu poder político, não conseguiram apagar as instituições romanas.
Séculos depois, com o advento do Império Romano-Germânico, a herança do Império Romano se virtualizou na forma do que hoje chamamos de Igreja Católica.
A mais longeva, influente, rica e capilar instituição, criada no Ocidente, perpetuou / virtualizou o Império Romano, e manteve Roma como a capital do mundo cristão - uma instituição global, presente em cada canto do planeta.
No programa Roda Viva de 12/4/2021, perguntaram a Dom Odilo Scherer, Cardeal da Arquidiocese de Sao Paulo:
"Qual é a receita para uma instituição durar 2.000 anos?"
Ao que Dom Odilo respondeu:
"Estar do lado da verdade e ter credibilidade, .... do lado das causas boas, não necessariamente das causas vencedoras."
Quando um novo governo assume na China, ascendem ao poder mais de 300 pessoas, que foram educadas nas melhores escolas do mundo. Estas pessoas tiveram uma carreira de sucesso na administração pública, em um sistema meritocrático que começa no baixo escalão. Este grupo tem uma missão, e assim como acontece há milênios, serão substituídos por outro grupo, em incubação nas províncias chinesas.
Este processo começa nas famílias - aos 11 anos de idade, os melhores alunos da escolas confucianas são selecionados para serem preparados para gerir o pais. Ninguém duvida que o governo chinês tem um "plano de vôo" décadas à frente. Na China, a dimensão do tempo é medida em milênios.
Quando o primeiro ministro inglês é escolhido no Parlamento, antes de qualquer ato, ele vai ao Buckingham Palace para ser recebido pela Rainha. Enquanto os jornais especulam sobre o que vai mudar no governo que se inicia, o então eleito vai beijar a mão da Soberana que, com a sua família, representa a família de todos os britânicos. A mensagem é clara: tudo precisa mudar, para que nada mude nos valores essenciais e necessidades fundamentais da sociedade humana. Os primeiros ministros "passam", mas o Estado fica.
Não consigo imaginar a construção de uma nação sem uma visão de futuro a longo prazo.
Quando olho para o Brasil, onde está o discurso do futuro? Onde podemos buscar a inspiração para acharmos nosso papel? Onde estão nossos estadistas?
A experiência brasileira é única, tanto pela nossa posição geográfica no mundo, como pela nossa dimensão. O governo do Brasil é responsável por cuidar de mais de 200 milhões de vidas, que representam a maior experiência de miscigenação de povos de todos os continentes do planeta e da história, incluindo 38 povos originais, com suas respectivas línguas, além de uma fauna e uma flora que representam a maior biodiversidade do mundo.
Nosso maior diferencial no mundo é a biodiversidade, da qual depende a vida na Terra. Porém, encontro apenas nos discursos do cacique Raoni e de Airton Krenak, a base conceitual de pensar o Brasil do futuro, que pode inspirar os cientistas /acadêmicos. A terra, na qual existe a abundância, deveria ser também a terra da harmonia. Nossa incapacidade de viver em harmonia, com certeza, destruirá nossa abundância.
O diretor Godfrey Reggio, em 1982, lançou um filme instigante, que ganhou o mundo daqueles que viriam a ser os pais dos "millenniums". Intitulado "Koyaanisqatsi", trazia cenas de todo o planeta Terra, urbano e rural, e do impacto do homem sobre o meio ambiente. Numa velocidade eletrizante de imagens, era como um grito de desespero, embalado pela música monocórdica do genial Philip Glass, que repetia o termo indígena hopi “Koyaanisqatsi", que significa "vida em desequilíbrio".
O Brasil completará, em 2022, 200 anos como país independente. 40 anos terão se passado desde o alerta de "Koyaanisqatsi" - temos, portanto, um encontro marcado como Nação. Em 2022, a preservação do meio-ambiente e o combate à miséria deverão estar acima de tudo e de todos.
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